Líderes querem que Estado gerencie ferrovia até porto 29/09/2011 - 14:20

CASCAVEL – Líderes cooperativistas e empresariais do Oeste do Paraná querem que o governo estadual, por meio da Ferroeste, reassuma o gerenciamento de toda a extensão da estrada de ferro em seu percurso de 593 quilômetros entre Cascavel e o Porto de Paranaguá. O principal argumento é que a retomada desse trecho de concessão, hoje em mãos da ALL (América Latina Logística), seria a medida mais sensata para fazer com que essa obra pública realmente justifique o investimento de US$ 363 milhões (R$ 653 milhões, considerando o dólar a R$ 1,80) que recebeu na primeira metade de 1990. A ferrovia enfrenta dois sérios problemas: gargalos na malha e, diante disso, a pouca atratividade para que a ALL amplie suas operações dando suporte ao trecho de 248 quilômetros entre Cascavel e Guarapuava. O presidente da Ferroeste, Maurício Querino Theodoro, informa que a malha não sofreu qualquer melhoria em seus 17 anos de atividades. Com isso, a viagem que deveria consumir sete horas e meia leva 12 para ser concluída. Porém, o governo Beto Richa investe para recuperar os trechos mais críticos e, com isso, o tempo será reduzido, com ganho de oito viagens por mês. PREJUÍZOS Sem os investimentos necessários, o Oeste do Paraná perde sua principal logística de transporte, principalmente de grãos e carnes, ao Porto de Paranaguá, informa o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli. A opção que se mostra a mais coerente diante do cenário, segundo o líder cooperativista, é o Estado retomar a concessão no trecho entre Guarapuava a Paranaguá, como ocorreu com a Ferropar, que até pouco tempo geria o trecho entre Guarapuava e Cascavel. Em razão das deficiências ferroviárias, grande parte da produção regional segue ao litoral de caminhão e em rodovias pedagiadas. A Ferroeste atingiu o seu auge em 2003 ainda sob a concessão da Ferropar. Naquele ano, a movimentação de cargas chegou a 1,9 milhão de toneladas em um único ano. Mas ainda longe da capacidade estimada de quatro milhões de toneladas. Atualmente, com poucos vagões e locomotivas, com os gargalos que obrigam o fracionamento de composições e a redução da velocidade de tráfego, o volume escoado é o mínimo, de apenas 300 mil toneladas/ano. “Não é nem de longe o que se espera de uma obra logisticamente tão decisiva”, reconhece o presidente Maurício Theodoro. MELHOR CAMINHO É O DA UNIFICAÇÃO DA MALHA Como a opção de construir um segundo trajeto ferroviário entre Cascavel e Guarapuava exige muito dinheiro, a melhor alternativa é a unificação de toda a ferrovia, do Porto de Paranaguá a Cascavel, apontam líderes. “Se a ALL não tem interesse em tocar o trajeto adequadamente, então deve dar a oportunidade de fazê-lo ao governo estadual”, informa o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli. Essa é uma obra que custou muito caro aos paranaenses e esse dinheiro precisa ser melhor aproveitado. Ele deve atender aos interesses da comunidade e não simplesmente os de uma empresa, que é de ter lucro, conforme o presidente da Coopavel. O impasse de gestão da Ferroeste, parte pública e outra privada, traz sérios prejuízos não só à economia da região, mas para todo o Paraná. O presidente da Caciopar (Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Oeste do Paraná), Khaled Nakka, informa que a situação, do jeito como está hoje, faz com que os produtos da região percam fortemente em competitividade. Um número, apurado em estudo da Coopavel, dá a dimensão do problema: sem a logística de transportes adequada, a região desperdiça anualmente R$ 100 milhões. CONTRASSENSO Para Dilvo Grolli, o quadro de dificuldades que se apresenta hoje com a Ferroeste é um contrassenso. “Temos o mais difícil, que é a ferrovia, no entanto ela não opera”. O cenário provoca um forte desrespeito ao dinheiro público, reduz o potencial de retorno de produção de uma região inteira com a inibição da abertura de novas oportunidades de emprego e limitação na circulação de recursos. Há ainda, em razão desse represamento, geração de menos impostos ao Estado. LOGÍSTICA E CUSTOS DIFERENTES A evidência de que a ALL trata de maneira diferente as regiões nas quais opera no Paraná está nos depoimentos do presidente e do secretário-executivo da Acepar, a Associação das Empresas Cerealistas do Paraná, Arney Frasson e Luciano Marqiewicz. No escoamento da safra de 2010, o valor cobrado pela América Latina Logística era de R$ 20 a mais por tonelada para a mesma carga que saiu de Cascavel e outra de Londrina em direção ao Porto de Paranaguá. O secretário-executivo da Acepar, Luciano Marqiewicz, diz que essa é uma atitude que não se sustenta, porque os trechos têm praticamente a mesma distância. A redução é de apenas 30 quilômetros no trajeto entre Londrina e o porto em comparação a Cascavel e a estrutura portuária de Paranaguá. No terminal de Londrina, o número médio de vagões chegou, à época, a 400 por dia, enquanto que os oferecidos pela ALL para o transporte da safra de grãos do Oeste era de, no máximo, 30 vagões por semana. Mesmo com a mudança de governo e com a retomada do diálogo, a situação hoje é praticamente a mesma, segundo Luciano. O presidente da Acepar, Arney Frasson, entende que essa é uma situação difícil e que precisa, pela lógica e pelo bom senso, ser resolvida o mais rapidamente possível. O que não dá é para continuar como está, sob o risco de um agravamento do sistema e de mais prejuízos principalmente aos produtores rurais do Oeste do Paraná. A Acepar representa o interesse de 42 empresas cerealistas do Estado; do Oeste são 15. Em razão dos problemas que historicamente a Ferroeste apresenta, apenas a metade delas utiliza o transporte ferroviário e, mesmo assim, de forma modesta. Com uma estrutura melhor, a movimentação poderia ser muito maior. Luciano vê outra consequência com o quadro: elevação de custos e até dificuldades no processo de exportação do que a região produz de melhor, principalmente em commodities. CONCESSÃO É DE 30 ANOS A concessão de ferrovias no Paraná é por prazo de 30 anos. A ALL gere vários trechos no Estado desde 1º de março de 1997. O contrato vai expirar em 28 de fevereiro de 2027. Equipe de reportagem de O Paraná tentou contato com o comando da ALL, para ouvir versão sobre a unificação da Ferroeste, mas não teve sucesso. (Jean Paterno - O Paraná)

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